Quando
você escreve, deixa uma marca no texto, capaz de fazer as pessoas que o leem
perceberem que foi você quem o escreveu – a isso se pode chamar de estilo
próprio de escrita. O estilo pode ser inato ou construído, ao longo da sua
percepção de mundo e da forma como você vai transferir essa visão para o papel.
Certamente,
você já se deparou com a dificuldade de iniciar um texto. Na realidade, nem
todos conseguem explicar, por meio de palavras bem articuladas (texto), o que
sentem, no que acreditam, como veem as outras pessoas, o que acham do atual
cenário mundial, seja relacionado a fatores políticos, econômicos, sociais ou
culturais. É o famoso não sei nem como começar. Daí porque muitos não
conseguem iniciar uma redação, ainda que seja uma simples tarefa escolar, como os
clichês: como foram suas férias ou fale sobre você.
Antes
de você se perguntar se tem um estilo próprio de escrita ou buscar desenvolvê-lo,
é preciso atentar para o fato de que a linguagem escrita é bem diferente da
linguagem coloquial e que existem várias maneiras de dizer uma mesma coisa, de
modo mais ou menos rebuscado, de acordo com o público que se quer atingir. Se
você precisar falar sobre sexualidade, por exemplo, o tema pode ser apresentado
de forma lúdica, se estiver sendo dito a crianças, mas, se o público for composto
por adultos e, se estes forem acadêmicos de Medicina, o tema vai ter que ser
visto por ângulos muito mais profundos e, inclusive, utilizando todos os termos
técnicos aplicáveis. Então, a primeira inferência que nos vem à mente é a de
que o nosso texto deve ser produzido pensando no nosso leitor. Assim, um
jornalista escreve para uma determinada população, um advogado escreve petições
que serão analisadas e julgadas por magistrados, um vereador escreve projetos
de lei que serão lidos e votados por seus pares, blogueiros escrevem textos
para seus nichos específicos (culinária, música, opinião etc.), um aluno
escreve uma redação para um professor (com o objetivo intrínseco de receber uma
nota ou, no mínimo, um elogio por parte do mestre), já um candidato a uma vaga
de emprego, seja por concurso público ou por processos recrutadores de empresas
privadas, escreve sabendo que aquele texto pode mudar a sua vida e lhe trazer
uma oportunidade única, uma vez que será julgado por alguém com competência
elevadíssima, não só por seu conhecimento linguístico, mas por sua
imparcialidade total, livre de qualquer laço afetivo e que, portanto, escolherá
o texto que melhor demonstre a capacidade expressiva do candidato (seu vocabulário),
sua aptidão linguística (conhecimento e aplicação da norma culta), a forma como
constrói seu texto (estrutura), suas percepções acerca da realidade do Brasil e
do mundo (contextualização) e sua originalidade (estilo próprio e criatividade).
Logo,
escrever um texto bom e original é como criar uma verdadeira obra de arte,
atendendo aos requisitos pontuais que a norma exige (importantíssimo), mas
imbuída de características que o diferenciem entre os demais (isso é essencial).
Para conseguir atingir esse patamar de diferenciação, você precisa entender que
a leitura deve fazer parte da sua vida, assim como o hábito de comer ou de dormir.
E, quando digo leitura, não me refiro somente aos textos abundantemente
disponíveis em diversas mídias (livros, blogs, jornais e outras). Chamo sua atenção
para o hábito de ler a realidade, procurar mergulhar nos mais variados
contextos que essa leitura lhe permitir, estar aberto aos significados que vão
se apresentando a você, às vezes de forma explícita (ou quase imperceptível),
dar-se a oportunidade de apreender a essência das coisas, analisar o
comportamento humano, perceber os sinais da natureza, a beleza das artes
(música, poesia, pintura, escultura, culinária, artesanatos, dança, cinema e
outras). Enfim, para ler a realidade, você precisa passar por ela de olhos
abertos, atentos a tudo e a todos, a fim de se tornar capaz de desenvolver sua
criticidade e se tornar protagonista de sua existência e do legado que você vai
querer deixar aos seus descendentes. Essa postura, inexoravelmente, o conduzirá
por um caminho sem volta (e muito recompensador), rumo à amplitude do seu
conhecimento, do seu vocabulário, da sua capacidade de relacionar os
acontecimentos e opinar sobre eles, o que lhe permitirá desenvolver suas
habilidades e deixar vir à tona o seu estilo próprio de escrita.
Texto autoral.


