segunda-feira, 20 de julho de 2020

ESTILO PRÓPRIO DE ESCRITA



Quando você escreve, deixa uma marca no texto, capaz de fazer as pessoas que o leem perceberem que foi você quem o escreveu – a isso se pode chamar de estilo próprio de escrita. O estilo pode ser inato ou construído, ao longo da sua percepção de mundo e da forma como você vai transferir essa visão para o papel.

Certamente, você já se deparou com a dificuldade de iniciar um texto. Na realidade, nem todos conseguem explicar, por meio de palavras bem articuladas (texto), o que sentem, no que acreditam, como veem as outras pessoas, o que acham do atual cenário mundial, seja relacionado a fatores políticos, econômicos, sociais ou culturais. É o famoso não sei nem como começar. Daí porque muitos não conseguem iniciar uma redação, ainda que seja uma simples tarefa escolar, como os clichês: como foram suas férias ou fale sobre você.

Antes de você se perguntar se tem um estilo próprio de escrita ou buscar desenvolvê-lo, é preciso atentar para o fato de que a linguagem escrita é bem diferente da linguagem coloquial e que existem várias maneiras de dizer uma mesma coisa, de modo mais ou menos rebuscado, de acordo com o público que se quer atingir. Se você precisar falar sobre sexualidade, por exemplo, o tema pode ser apresentado de forma lúdica, se estiver sendo dito a crianças, mas, se o público for composto por adultos e, se estes forem acadêmicos de Medicina, o tema vai ter que ser visto por ângulos muito mais profundos e, inclusive, utilizando todos os termos técnicos aplicáveis. Então, a primeira inferência que nos vem à mente é a de que o nosso texto deve ser produzido pensando no nosso leitor. Assim, um jornalista escreve para uma determinada população, um advogado escreve petições que serão analisadas e julgadas por magistrados, um vereador escreve projetos de lei que serão lidos e votados por seus pares, blogueiros escrevem textos para seus nichos específicos (culinária, música, opinião etc.), um aluno escreve uma redação para um professor (com o objetivo intrínseco de receber uma nota ou, no mínimo, um elogio por parte do mestre), já um candidato a uma vaga de emprego, seja por concurso público ou por processos recrutadores de empresas privadas, escreve sabendo que aquele texto pode mudar a sua vida e lhe trazer uma oportunidade única, uma vez que será julgado por alguém com competência elevadíssima, não só por seu conhecimento linguístico, mas por sua imparcialidade total, livre de qualquer laço afetivo e que, portanto, escolherá o texto que melhor demonstre a capacidade expressiva do candidato (seu vocabulário), sua aptidão linguística (conhecimento e aplicação da norma culta), a forma como constrói seu texto (estrutura), suas percepções acerca da realidade do Brasil e do mundo (contextualização) e sua originalidade (estilo próprio e criatividade).

Logo, escrever um texto bom e original é como criar uma verdadeira obra de arte, atendendo aos requisitos pontuais que a norma exige (importantíssimo), mas imbuída de características que o diferenciem entre os demais (isso é essencial). Para conseguir atingir esse patamar de diferenciação, você precisa entender que a leitura deve fazer parte da sua vida, assim como o hábito de comer ou de dormir. E, quando digo leitura, não me refiro somente aos textos abundantemente disponíveis em diversas mídias (livros, blogs, jornais e outras). Chamo sua atenção para o hábito de ler a realidade, procurar mergulhar nos mais variados contextos que essa leitura lhe permitir, estar aberto aos significados que vão se apresentando a você, às vezes de forma explícita (ou quase imperceptível), dar-se a oportunidade de apreender a essência das coisas, analisar o comportamento humano, perceber os sinais da natureza, a beleza das artes (música, poesia, pintura, escultura, culinária, artesanatos, dança, cinema e outras). Enfim, para ler a realidade, você precisa passar por ela de olhos abertos, atentos a tudo e a todos, a fim de se tornar capaz de desenvolver sua criticidade e se tornar protagonista de sua existência e do legado que você vai querer deixar aos seus descendentes. Essa postura, inexoravelmente, o conduzirá por um caminho sem volta (e muito recompensador), rumo à amplitude do seu conhecimento, do seu vocabulário, da sua capacidade de relacionar os acontecimentos e opinar sobre eles, o que lhe permitirá desenvolver suas habilidades e deixar vir à tona o seu estilo próprio de escrita.


Texto autoral.